Na Sexta-Feira Santa, pelas 15hs, participei da Celebração da Paixão do Senhor e da Adoração da Cruz na minha paróquia em Matosinhos.
A Igreja do Bom Jesus de Matosinhos estava preparada para esta
belíssima celebração do Tríduo Pascal. O coro e os leitores deixaram-me, como
que, em sintonia com a paixão e morte de Jesus. Cada palavra dita, cada tom
musical ao sabor das vozes a cantar, fizeram-me levitar até o calvário.
Assim como Maria, pus-me diante da cruz.
Diante da cruz, deixei-me estar a contemplar a paixão de Jesus.
Sim, foi uma celebração demorada. Porém, se estamos diante de Deus, a
saborear a sua presença, não podemos contabilizar o tempo.
Nesta Sexta-feira Santa, o silêncio nos invade a alma, pois o nosso
Deus, que se fez humano entre nós, padeceu a injustiça e a morte na cruz.
A crueldade com que, por vezes, faz-se mal a quem só faz bem.
Assim, Jesus, o homem que só fez bem em sua vida, cuja a presença levou tantos para
Deus… Esse homem, aquele que nenhum crime cometeu…
Apenas amou-nos, e amou-nos tanto que se submeteu à morte.
Se meditarmos cada pormenor da sua paixão (João,18 -19) vemos o quanto
Jesus sofreu. E no sofrimento de Cristo, vemos o nosso sofrimento e a dor de toda a humanidade.
A traição de um dos seus amigos, Judas. Quantos de nós, não somos
traídos por quem julgamos amigos?
O abandono a que nos deixam quando passamos por um infortúnio. Assim,
também Jesus ficou, sozinho, abandonado por seus amigos…
Foi Simão Cirineu, um desconhecido, que o ajudou a carregar a sua cruz.
Quantas vezes, são os desconhecidos que nos ajudam, quando passamos por
momentos de cruz.
Somos, por vezes, despojados de tudo… Assim, Jesus, foi despojado das
suas vestes e de tudo que tinha para ser exposto, publicamente como um
criminoso, de forma injusta.
Quantas vezes, nós passamos pelo mesmo, em nossa vida… Somos
injustiçados, mal interpretados e por vezes, condenados …
Deixam-nos na cruz do desprezo, do abandono e da falta da esperança em soluções humanas.
Mas Deus é fiel… Mesmo na cruz, dá-nos a presença da Mãe… Maria estava
aos pés da cruz de Jesus, e também estava lá, um dos seus amigos: João.
Por vezes, alguns amigos apercebem-se e voltam a estar connosco nos
momentos mais difíceis. São estes amigos que são a presença da esperança humana
na terra.
Mesmo que estes amigos nos falhem, Maria, a mãe de Jesus nos levanta em seus braços maternos.
E Jesus foi sepultado por quem nem se julgava contar naquele momento de morte e abandono:
José de Arimateia e Nicodemos. (João 19, 38)
Assim, também, quantas vezes, o nosso corpo morto e desfalecido pelas
dificuldades da vida, encontra repouso em braços estrangeiros ou desconhecidos, pessoas anónimas
que nos surgem como anjos…
Quantas e quantas pessoas dedicam-se a atos de caridade, por vezes de
forma anónima e assim aliviam a dor de desconhecidos. E um destes pode ser um
de nós!
A cruz e a morte de Jesus perpetuam-se no tempo e na história da
humanidade.
Beijar a cruz, eis um momento sublime …
A cruz é o sinal do cristão que segue os passos do seu Mestre Jesus!
Apesar deste momento ser intenso e demorado devido a tanta gente que
estava presente na igreja, ainda mais com as crianças da catequese que também
vieram beijar a cruz, tudo esteve assim como que interligado com o convite ao silêncio e à reflexão acerca do mistério da paixão de Cristo.
Por fim, recebi a Eucaristia e
esta bênção inundou o meu ser com a presença de Cristo.
E depois, ao fim da celebração, o corpo morto de Cristo, vai para as
ruas de Matosinhos, em procissão do enterro do Senhor até a Igreja de Santo
Amaro.
Publicamente, Jesus percorre as nossas ruas e convida-nos a meditar na sua morte, prenúncio da Ressurreição que nasce da Cruz.
Publicamente, Jesus percorre as nossas ruas e convida-nos a meditar na sua morte, prenúncio da Ressurreição que nasce da Cruz.
Fotos da Procissão do Enterro do Senhor da Igreja Paroquial de Matosinhos até a Igreja de Santo Amaro - 14 de Abril de 2017.
Pinturas de Gráccio Caetano - www.gracciocaetano.com