Mais uma vez, a cruz visitou a
minha casa. A água benta e as palavras: Jesus Ressuscitou, Aleluia, Aleluia, ocuparam
o meu lar.
Esta tradição da Visita Pascal
traz o perfume da Ressurreição para os lares que lhe abrirem a porta.
Sim, Jesus só nos visita, se
deixarmos que Ele entre na casa da nossa vontade.
E a tradição da visita pascal é
mais um daqueles momentos em que Jesus visita-nos aonde estamos, tal qual
somos, sem aparências.
Ao abrimos a porta da nossa casa,
pomo-nos assim como que humildes, neste acolhimento da cruz que sai à rua para
visitar os crentes.
Qual será a origem do chamado Compasso da Visita Pascal?
Esta designação deriva da expressão
latina: “Crux cum passo Domino”. Assim designa-se a "Cruz em que o Senhor
padeceu".
Em resumo, o Compasso é a Cruz
com a imagem do Crucificado.
Claro que esta cruz era no tempo
de Jesus, um instrumento de tortura usado pelos romanos, para assim condenar os
seus opositores e criminosos.
Os cristãos dos primeiros tempos,
com a Ressurreição de Jesus, porém, deram à cruz um novo significado. A cruz
torna-se o sinal de redenção e glória.
Aliás, o próprio Jesus, ainda
antes de morrer, já nos interrogava acerca do que a cruz deve ser na nossa
vida:
“Chamando a si a multidão,
juntamente com os discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser vir após mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar
a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do
Evangelho, há-de salvá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se
perder a sua vida? Ou que pode o homem dar em troca da sua vida? Pois quem se
envergonhar de mim e das minhas palavras entre esta geração adúltera e
pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória
de seu Pai, com os santos anjos.»” (Marcos 8,34-37)
A Cruz, antes de mais, é um
sinal, um caminho e uma porta, por onde o próprio Jesus foi e entrou,
ensinando-nos de maneira concreta, que não devemos nos envergonhar de ter que
também passar pela mesma cruz.
Nos tempos hodiernos, o medo da
cruz é recorrente. Sofrer não está "na moda". Porém, não existe ninguém no mundo,
que não tenha uma cruz, nem que seja um “espinho na carne” como tinha São Paulo.
A cruz interroga-nos e parece-nos
absurda para que a possamos compreender plenamente:
“A linguagem da cruz é certamente
loucura para os que se perdem mas, para os que se salvam, para nós, é força de
Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a
inteligência dos inteligentes.”( 1Cor 1, 18-19)
A cruz do Compasso, visita-nos
adornada e perfumada, porque a frescura da alegria pascal vem com ela benzer
solenemente as casas dos seus paroquianos.
Quando recebi a cruz em minha
casa, senti-me realmente consolada.
Um senhor e três jovens trouxeram
à minha casa, a Cruz Pascal.
Vinham com um sorriso que me contagiou.
Entregaram-me uma pagela com a
bonita oração que me permitiu rezar com eles, dizendo: “Aleluia, Aleluia”.
Aleluia, Jesus Ressuscitou,
Aleluia!
Ah, que grande alegria senti
quando ressoaram estas palavras no meu coração.
Após a breve oração, o senhor que
levava a cruz disse-me que a ressurreição de Jesus não é apenas pronunciada com
palavras, mas antes com os nossos gestos e testemunhos.
Este é um grande desafio nos atuais tempos em que vivem os cristãos. Testemunhar a Ressurreição de Cristo com atitudes é mais difícil do que falarmos da sua glória com simples palavras.
Porém, Cristo Ressuscitou para que com Ele, possamos, também nós, ressuscitar e renovar o nosso espírito, pois enquanto cá estivermos, ainda temos tempo para mudar o nosso caminho.
A Ressurreição de Cristo deve revigorar os nossos ossos ressequidos pelas preocupações e cansaço do dia-a-dia.
A cruz desperta-me para o que
existe para além do sofrimento humano.
A cruz de Cristo é a esperança da
Ressurreição que abre os corações para uma nova vida para além da que morre pela morte do corpo material.
“Mas hoje, a Igreja continua a
dizer: “Pare! Jesus Ressuscitou!” E isto não é uma fantasia, a Ressurreição de
Cristo não é uma festa com muitas flores. Isto é bonito, mas não é só, é mais
do que isto. É o mistério da pedra descartada que torna-se o alicerce da nossa
existência. Cristo Ressuscitou, este é o significado”. (Palavras do Papa Francisco na Missa
presidida na Praça São Pedro neste Domingo de Páscoa de 16 de Abril de 2017)
Para além destas sábias palavras do meu querido Papa Francisco, que mais posso dizer?
Apenas uso ainda as palavras da
pagela que me entregaram na visita pascal que aqui transcrevo:
“«Não tenhais medo. Sei que
buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito.
Vinde, vede o lugar onde jazia e ide depressa dizer aos seus discípulos: ‘Ele
ressuscitou dos mortos...»” (Mateus 28, 5b-7a).
Bibliografia:
Citações bíblicas retiradas do
site: www.capuchinhos.org/
O Significado do Compasso Pascal foi
consultado em
Palavras do Papa Francisco
consultadas no site
br.radiovaticana.va/news/2017/04/16/papa_a_igreja_n%C3%A3o_cessa_de_proclamar_cristo_ressuscitou!/1306126
Fotos da pagela da Visita Pascal da Paróquia do Salvador de Matosinhos - Portugal.
Pintura sobre azulejo de Gráccio Caetano - www.gracciocaetano.com