Conhecer a vida dos santos é aprender com quem já viveu esta aproximação a Deus, estes caminhos de santidade quase que intocáveis.
No entanto, o ser humano imperfeito diante da perfeição de Deus, interroga-se se é possível chegar a Ele.
Será que é possível chegar à luz mais bela e mais pura de Deus?
Lembrei de Maria, a Mãe de Jesus, a Mãe de Deus, a Mãe da Igreja, a Mãe de todos nós, incluindo nós, os mais pecadores.
Eu sempre gostei
de Maria, e a sua imagem me fazia sentir a paz de Deus.
Desde o meu
nascimento, a presença da Mãe de Deus se fez sentir na minha história de vida.
Quando nasci, saí
já como morta pois não chorei. A minha mãe teve um parto difícil e demorado, e
foi ela que sentiu que já em seu ventre morria, quando agarrou-se às grades da cama
da maternidade para fazer força e colocar-me para fora pois os enfermeiros que
a assistiam diziam que ainda não tinha chegado a hora do meu nascimento. O atraso
do meu parto quase me tirou a vida, pois já nasci inerte e roxa, talvez já
morta. Enquanto os médicos me reanimavam, dando-me uma palmada para chorar,
como na altura se fazia para que os bebês chorassem ao nascer, a minha mãe
prometeu que se eu vivesse, Maria Santíssima seria a minha madrinha espiritual
de Batismo.
E realmente revivi,
sendo batizada uns meses depois deste primeiro milagre em minha vida, a 13 de
marco de 1966. Uma das fotos do meu batismo foi tirada, exatamente junto ao
altar de Nossa Senhora de Fátima.
Por isso, desde
criança, Maria acompanhou-me com especial ternura. Mesmo nas alturas em que
vivi longe da sua presença materna, Ela nunca me deixou órfã da sua proteção.
Sim, houve um
tempo em que a minha fé católica esfriou um pouco. Nessa altura vivia muito apegada
às coisas do mundo. Estava a viver uma fase profissional próspera, com uma
carreira na função pública estabilizada.
Foi uma altura em
que devido a tanta prosperidade financeira que fiquei realmente como que
inundada pela visão material e racional, tentando também enquadrar a minha fé
católica nesta minha visão mais moderna, nem que fosse contrário ao que ouvisse
na igreja.
Porém, Deus
quando ama, não nos quer longe Dele. E Maria, é a Mãe que nunca esquece os seus
filhos. E mesmo que estes filhos se afastem Dela ou mesmo a esqueçam ou a
desprezem, Maria tem um carinho muito especial que só quem é católico o
consegue sentir em plenitude quando a Ama, sem reservas.
Foi então que fiz
uns exames de rotina, e apareceu indícios de algo grave que levou o médico a mandar-me
fazer novos exames para avaliar a minha situação mais em pormenor.
Foram dias de muita
ansiedade em que olhava para a minha vida e tudo aquilo que estava a construir,
e que parecia inabalável, a desmoronar perante a minha fragilidade humana.
Marcado o dia em
que tinha uma nova consulta para ser reavaliada, enquanto aguardava que fosse
atendida, lembrei-me de recorrer à Imaculada Conceição de Maria. Naquela
ocasião, por estar encharcada com as coisas materiais do mundo, não acreditava
muito neste dogma da Imaculada Conceição de Maria, apesar de ter sido aprovado
pela Igreja Católica. À minha mente racional parecia-me demasiado obscuro.
Acreditar na Imaculada
Conceição de Maria é acreditar que Maria, mãe de Jesus nasceu com a Graça especial
e o privilégio de ser preservada do pecado original.
Assim declarou o Papa
Pio IX, no dia 08 de dezembro de 1854, juntamente com 54 cardeais, 43
Arcebispos, 100 Bispos e mais de 50 mil romeiros, que vieram do mundo todo, na
Bula “INEFFABILIS DEUS”: “A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro
instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente,
em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada
imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e
por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.”
O dogma aponta para dois pontos importantes:a) a Virgem Santíssima foi preservada do pecado original desde o princípio de sua concepção;b) a Virgem Santíssima recebeu este privilégio, apesar de humana, por causa de Jesus Cristo, gerado em seu ventre.
Apesar de todas
estas belas palavras, tudo isto era demasiado complexo para minha consciência
racional e prepotente.
Porém, a Virgem
Maria, minha madrinha espiritual de batismo sempre esteve ao meu lado, mesmo
nestas alturas em que me julgava uma pessoa inteligente e moderna, que já não acreditava
em histórias cientificamente improváveis.
Sim, acreditava que estas histórias religiosas de santos e santas, tinham um fim de levar-nos a Deus, com lições de vida, como que sendo fábulas,
mas daí acreditar que seriam verdadeiras, era um passo que o meu espírito cheio
de mim mesma não conseguia acreditar. Eu até me julgava muito crente em Deus, e
que tinha uma grande devoção a Maria, porém não acreditava em tudo que a minha
religião católica dizia.
Lembro-me bem que
na altura, enquanto esperava o veredicto final do médico, pedi à minha Mãe do
céu, com uma certa prepotência, de que hoje me arrependo, dizendo-lhe: - Minha Mãe
Santíssima, pela sua Imaculada Conceição, se é verdadeira e para que eu acredite,
me livre de uma doença grave, neste momento.
Quando entrei no consultório
médico, quase que convicta que iria estar diante de uma má notícia, eis que o
médico me diz que afinal o que julgava não era o que tinha, e que podia ter uma
vida normal.
Diante daquela
notícia, senti-me como que tendo diante de mim, uma nova oportunidade de vida. Foi
a partir daí que comecei a tentar conhecer melhor a Imaculada Conceição de
Maria.
“Ao sexto mês, o
anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a
uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da
virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de
graça, o Senhor está contigo.» (Lucas 1, 26-28)
E fiquei ainda
mais surpreendida, quando ao aprofundar mais e mais sobre este tema, que a Imaculada Conceição está presente em tantas
aparições da Virgem Maria e que começou a ser divulgado e seguido pelos fiéis e
santos da Igreja católica, ainda muito antes de ser proclamado como dogma e que
a primeira santa portuguesa, a Santa Beatriz da Silva fundou uma ordem dedicada
totalmente à Imaculada Conceição que até os dias de hoje, em vários países do
mundo, assumiu para si a clausura para rezar por toda a humanidade.
A partir deste
conhecimento da Imaculada Conceição de Maria, cujas as raízes bíblicas vem
desde o Antigo Testamento e complementam-se no Apocalipse, comecei a perceber melhor as aparições de Nossa Senhora em Paris, em Lourdes e em Fátima.
Sim, nas
aparições de Fátima aos três pastorinhos, a Imaculada Conceição de Maria vem
dar ao mundo um alerta que se prolonga aos dias de hoje.
Por isso, vou dedicar
vários artigos a este tema, que abraça a história da Igreja e a minha própria
história nos últimos anos.
Conhecer melhor este dogma da Imaculada Conceição de Maria concedeu-me a graça de conhecer melhor a minha religião católica, compreendendo mais em pormenor a minha
fé e ajudou.me a pratica-la de forma mais amadurecida.
Por vezes, não
conhecemos muito bem os dogmas da Igreja católica e nem o que podem representar
na nossa fé. Porém, na minha experiência de vida, tenho comprovado o quanto perdi em minha espiritualidade por me
esquivar de aprofundar e estudar toda esta riqueza espiritual do catolicismo, deixando
de beber deste manancial de graças, esta água viva que brota da Igreja católica
que está ali tão acessível e ao mesmo tempo tão menosprezado pela nossa prepotência. Confiamos nas nossas próprias opiniões sem primeiro dar pelo menos uma
oportunidade de ler, aprofundar e ouvir, pois para as coisas de Deus, temos de
ter ouvidos para ouvir como disse Jesus tantas vezes nos Evangelhos.
“Saiu o semeador
a semear a sua semente. E ao semear, parte da semente caiu à beira do caminho;
foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra caiu no pedregulho; e, tendo
nascido, secou, por falta de humidade. Outra caiu entre os espinhos; cresceram
com ela os espinhos, e sufocaram-na. Outra, porém, caiu em terra boa; tendo
crescido, produziu fruto cem por um. Dito isto, Jesus acrescentou alteando a
voz: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!"(Lucas 8, 5-8)
Parece que isto
de ter ouvidos para ouvir é um contrassenso, mas ter ouvidos para ouvir é
exatamente este preparar e parar um pouco a nossa vida cheia de nós mesmos e
simplesmente ouvir como fez Maria, a irmã de Marta aos pés de Jesus. Podemos ser
a Marta que se enche de tarefas, pois há tanto que fazer. Mas basta que
tenhamos este momento aos pés de Jesus e escolhemos a melhor parte.
“Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa
aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Tinha ela uma irmã,
chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. Marta,
porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: «Senhor,
não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que
me venha ajudar.» O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e
perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor
parte, que não lhe será tirada.»" (Lucas 10, 38-42)
Esta melhor parte
é ir mais além, pois quem ama, vai para além das aparências e quer conhecer,
estar perto, ouvir e preparar o coração para apenas estar ali, sem reservas e
ouvir o seu amado.
Jesus quis nascer
de Maria e por isso, ao lado de Maria, tenho comprovado na minha vida que
igualmente aprende-se muito mais sobre Jesus.
Por isso, ao
querer conhecer mais sobre este dogma da Imaculada Conceição de Maria, mais
cresci na minha união com Jesus, e em Deus, com uma fé mais consciente e
concreta.
Ao conhecer
melhor o dogma da Imaculada Conceição de Maria, surpreendi-me, pois, esta riqueza
espiritual de fé, me levou a conhecer melhor a Vontade de Deus para a
humanidade e especialmente para a minha vida, e igualmente me ajudou a ter uma
verdadeira devoção à Mãe de Jesus.
“Existe uma ligação orgânica entre a nossa
vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho da nossa fé:
iluminam-no e tornam-no seguro. Por outro lado, se a nossa vida for recta, a
nossa inteligência e nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos
dogmas da fé (Cf. Jo 8, 31-32).”(Catecismo da Igreja Católica nº 89)
Antes do meu próximo artigo convido-vos a ver e ouvir estes vídeos que certamente irão melhor explicar este dogma da Imaculada Conceição:
Padre Paulo Ricardo explica teologicamente a Solenidade da Imaculada Conceição:
Nesse vídeo, o Dr. Scott Hahn explica maravilhosamente o dogma da Imaculada Conceição de Maria e nos mostra onde este se encontra nas Sagradas Escrituras. O Dr. Scott Hahn foi protestante e converteu-se ao catolicismo após conhecer mais profundamente a Igreja Católica, pelo que os seus conhecimentos são riquíssimos em termos bíblicos, históricos e dogmáticos:
No próximo artigo falarei da Santa Beatriz da Silva e como ela criou uma ordem religiosa totalmente dedicada à Imaculada Conceição.
Bibliografia:
As leituras
bíblicas foram consultadas em:
O Catecismo da
Igreja Católica foi consultado on line em
Aqui pode baixar
a Novena a Nossa Senhora das Graças ou Novena da Medalha Milagrosa
A Bula "Ineffabilis
Deus" - Dogma da Imaculada Conceição" foi consultada on line em: